quarta-feira, 29 de abril de 2009

A questão da língua





Hoje gostaria de falar de várias questões: a questão da mulher, a questão do jovem, a questão do meio ambiente, a questão do Corinthians, a questão dos Corollas...
Incrível como “questão” virou uma muleta. Dia destes ouvi um radialista, em uma entrevista de uns cinco minutos, usar algo em torno de trinta “questões” – a questão do orçamento, a questão do secretário, a questão da violência, a questão da crise... Por que não dizer: vamos falar sobre o orçamento, o imbróglio do secretário e o seu Corolla, ou ainda, iremos falar sobre a violência, sobre a crise?
E ele não está sozinho nesta “questão”!
Meu Deus! Acuda-nos meu amigo Paulo Tortello!

2 comentários:

Henrique Feliz disse...

A questão é que já virou vicio falar questão. ops.. falei questão duas vezes já, aliás, 3 vezes.

Abraço Gabriel

G disse...

A língua é uma questão de poder. Isso me lembra a última entrevista do FHC no canal 7, quando ele respondeu sobre quem seria o verdadeiro criador do plano real a resposta foi: "Isso é uma questão de semântica!"

Além de "questão", usando a palavra "semântica", ele excluiu todas as possibilidades de compreensão daqueles que desconhecem o significado dessa palavra, ou seja, a maioria. Ou seja, saiu pela culatra amparado por uma linguagem intelectual excludente.

Acho que usar a palavra "questão", apesar de bem menos excludente, tem o intuito de "enfeitar" o discurso e, consequentemente, torná-lo mais difícil num sentido de que: quem usa a palavra questão parece estar querendo dizer que tem a tal questão nas mãos e que ela está fora de um âmbito que possa ser discutido de forma mais simples e geral; tais enfeites conferem uma pseudo-importância ao que vem depois, de forma a excluir o povo que não entende que aquilo nada quer dizer, apenas entende que "estão falando complicado".

Ah, a língua... instrumento tão sutil de conferir poder. E como já dizia Schopenhauer: quem muito enfeita um discurso pouco tem a dizer; a "impressão" que esse discurso quer causar é sempre mais importante nesses casos...